segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Traduções

Para um leitor português, ler um livro policial significa, na maior parte das vezes, ler um texto traduzido. A edição de autores nacionais é reduzida, sendo de autores estrangeiros a maioría dos livros publicados.
Essa situação obriga ao recurso aos tradutores em grande escala e o resultado nem sempre é o melhor. Ainda para mais, neste género literário, que alguns editores consideram menor, a escolha dos tradutores nem sempre obedece aos requisitos mínimos de qualidade. E não é necessário conhecer o texto original para se ter esta opinião. Basta ler alguns livros para perceber que um texto escrito daquele modo na língua original, dificilmente seria aceite pelo editor, nunca seria um sucesso de vendas, como por vezes é, e receberia os elogios da crítica.
Não é raro duas obras do mesmo autor, traduzidas por duas pessoas diferentes, adquirirem na tradução estilos totalmente distintos ou, à vezes, ausência de estilo.
Este é um mal já antigo como se pode ler neste texto, transcrito da revista O gato preto, número 1, de Janeiro de 1952. Não está assinado mas será muito provavelmente de um dos responsáveis pela edição: Francisco A. Branco ou Manuel do Carmo.
Com o devido respeito, aqui fica a transcrição.
“ O gato preto não é coca-bichinhos. Não leu a tradução do “ Falcão de Malta” porque sabia o original inglês de cor. Quando ouviu toda a gente dizer que não gostava do livro, não percebeu.(…). Comprou o livro e meteu-se à leitura. Antes não o fizesse. Aquilo não é o “Falcão de Malta”.
Um dos livros mais notáveis da literatura americana fora transformado num folhetim barato. O gato preto não é coca-bichinhos. Mas apeteceu-lhe ver o que teriam feito a um escritor talvez ainda mais pessoal. E comprou “ À beira do abismo”. Antes não comprasse. O estilo desapareceu. (…) A ironia cáustica de Chandler – no tinteiro. Quando uma frase é mais complicada salta-se-lhe por cima. (…) Não há dúvida que os portugueses ainda não conhecem Hammett e Chandler. Conhecem o enredo? Talvez. Mas convencer-nos que ler aquilo é ficar a conhecer os autores é o mesmo que querer explicar-nos o que é um Rubens por meio de uma má fotografia de jornal.”

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