quinta-feira, 27 de março de 2014

Uma Aventura Inquietante

José Rodrigues Migueis é um dos mais importantes escritores do século XX, com vasta obra publicada. Entre os livros de que é autor encontra-se um romance policial, dos mais bem escritos e concebidos por autores portugueses, intitulado “Uma aventura inquietante”.
Foi publicado no semanário “O diabo” entre 16 de Setembro de 1934 e 12 de Julho de 1936. Desde que se iniciou o folhetim e até 23 de Junho de 1935 a publicação foi regular. Nessa data, o escritor partiu para os Estados Unidos, ficando o romance inacabado. Viria a recomeçar em 7 de Junho de 1936, devido aos insistentes pedidos dos leitores, que queriam saber como terminaria a história.
Só nessa altura se soube que o autor do romance era José Rodrigues Miguéis, que iniciara a publicação da obra sob o pseudónimo de Ch. Vander Bosch, autor belga, aparecendo o seu nome apenas como tradutor da obra.
Em 1958 a obra surgiria em livro, tendo-lhe o autor introduzido um texto no início, “À laia de introdução”, e um posfácio, “Começo e fim de uma aventura”.
O livro descreve as atribulações de um português, Zacarias d’Almeida, natural de Alcanhões, enredado numa situação de troca de identidades por terras do norte da Europa.
A construção do romance cria um ambiente muito intenso, deixando o leitor na perspetiva de pensar que já percebeu toda a trama, e de repente vê tudo a baralhar-se novamente. A ação segue um ritmo fulgurante, cheio de peripécias e incidentes, prendendo sempre a atenção de quem lê.
Não deve o leitor também deixar de apreciar o humor cáustico de José Rodrigues Miguéis sobre as instituições da época, comparando com o que se passa nos dias de hoje e percebendo a sua atualidade.
Trata-se de uma obra única no panorama da literatura policiaria em Portugal, pela construção do enredo e pela própria construção narrativa, que deixa o leitor a duvidar sobre quem será o narrador.

Uma obra que todos os gostam de boa literatura e de boa literatura policial não devem perder.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Mário Domingues

Faz hoje 77 anos que faleceu, em 24 de março de 1977, Mário Domingues.
Nascido na ilha do Príncipe em 3 de Julho de 1899, que  na época era parte constituinte do território português ultramarino, veio ainda criança para  a metrópole, para casa de uma avó.
Publicou a sua primeira novela policial, O Homem sem boca, que ficou incompleta, na coleção  Novela Policial. Em 1954, no primeiro número da coleção ABC Policial, editada por Artur Varatojo, Mário Domingues deu um final a essa novela.
No que concerne à literatura policial escreveu apenas um romance sob o seu nome, O crime de Sintra, em 1938, publicado no número 14 da coleção Detective. Todos os outros foram publicados sob os mais variados pseudónimos. Fica aqui a lista de alguns que Mário Domingues utilizou, não sendo de excluir que existam outros ainda desconhecidos: Fred Criswell, Henry Jackson, James Black, Joe Waterman, Marcel Durand, Max Felton, Nelson McKay, Peter O’Brion, Thomas Birch e W. Joelson.
Na literatura para os mais jovens criou o aventureiro russo Anton Ogareff e o cow-boy Billy Keller, com vários livros publicados, utilizando um pseudónimo com nome duplo, Henry Dalton e Philip Gray.
Teve também obra de relevo na divulgação da história de Portugal, com a publicação das biografias de várias personagens históricas, que lhe valeu a atribuição do grau de Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada, destinada a distinguir individualidades de relevo nas Ciências, nas Artes e nas Letras

quinta-feira, 20 de março de 2014

O mistério da casa vermelha

A. A. Milne publicou The Red House Mistery em 1922, constituindo-se o livro um sucesso de vendas imediato. O autor viria a ser conhecido mundialmente, pela criação posterior a esta data das personagens Winnie-the-Pooh e Christopher Robin, que a Disney adaptaria ao cinema.

Marc Ablett, o proprietário da casa vermelha, gostava de ter sempre convidados na sua casa. Foi na tarde de um dia em que as cinco pessoas que ele convidou foram jogar ténis, que chegou o seu irmão residente na Austrália há vários anos. Além de Marc, encontravam-se na casa o seu primo e homem de confiança, Mathieu Cayley, e todos os empregados.
Foi numa sala fechada que, logo após a sua chegada, apareceu morto Robert, o irmão de Marc.
A investigação foi feita por Antoine Gillingham, que surgiu na casa segundos após o crime ter ocorrido, para visitar um dos convidados, Bill Beverley.
O autor pretendeu fazer de Antoine um novo Sherlock Holmes e de Bill um Watson, que ia questionando Antoine para que ele expressasse o seu raciocínio dedutivo.

Como em muitas obras desta época, na literatura policial inglesa, estamos perante a aristocracia britânica, com pessoas que vivem apenas dos rendimentos, nada fazem e com as casas cheias de empregados para todos os serviços.
Embora a forma como o crime foi cometido seja bastante interessante, todo o processo de investigação é muito pobre e as motivações e atos das personagens são muito inverosímeis.
Sem dúvida que é uma obra de qualidade mais baixa que as de outros autores ingleses contemporâneos de Milne.

A edição portuguesa é de 1955 e foi publicada na Colecção Xis.

quinta-feira, 13 de março de 2014

O caso da moldura dourada

O Caso da Moldura Dourada foi o livro que iniciou a colecção Clube do Crime da editora Europa-América. A obra original, The Beautiful Golden Frame, foi publicada em 1980, sendo imediatamente traduzida para português e publicada, de modo a marcar a abertura da coleção com uma obra contemporânea.
O livro tinha uma capa original, em que a moldura de um espelho se apresentava em relevo.
A história descrevia mais um caso do detective Mark Preston, a criação de Peter Chambers, pseudónimo do escritor Dennis Phillips, numa narrativa que por vezes se torna um pouco confusa.
Mark Preston é contratado pelo milionário Bernard Rivers, quando a sua casa sofre a ameaça de ser incendiada por uma mulher que ele julga enlouquecida.  Rivers acha que mais do que o objetivo de queimar a casa existe a vontade de queimar um retrato da sua falecida esposa.
O desenvolver da investigação vai levar Mark Preston ao mundo do falecido autor do retrato e à tentativa de estabelecer uma ligação com a ameaça que  milionário está a sofrer.
Se o desenlace da história é bem conseguido e a própria sequência da trama, apesar de seguir por vezes caminhos menos claros, mostrar um ritmo bem interessante, já o mesmo não se pode dizer em relação à razão pela qual o detective é contratado. É o ponto fraco de todo o enredo.

sábado, 1 de março de 2014

Georges Simenon

Georges Simenon -(1903-1989)- marca a literatura policial com a sua personagem Maigret, comissário da polícia Judiciária Francesa.
Simenon trouxe um novo estilo ao romance policial da Europa. Com ele o crime passou a ser um mero acessório da história. As personagens são o mais importante; os seus impulsos, os seus ódios, os seus amores e o meio social onde vivem. O criminoso comete sempre o crime porque um conjunto de razões exteriores o levam a isso.
Simenon retrata toda a sociedade francesa, desde a mais alta sociedade burguesa e aristocrática, às prostitutas e bêbados dos bairros que vagueiam nas ruas, mostrando como surge o crime e o que o motiva. Expõe o íntimo das personagens, e é essa a via utilizada para colocar Maigret a descobrir o criminoso.
Com Simenon existe sempre uma razão objetiva e real para cometer o crime e, muitas vezes, o criminoso recebe a compreensão e simpatia do polícia, que o prende apenas porque é o seu dever.
Apesar de ter um grande número de romances e novelas utilizando a personagem  de Maigret, Georges Simenon tem ainda mais obras em que não o faz, tornando-se num escritor extremamente prolífico, mas mantendo uma elevada qualidade, criatividade e originalidade.