A Porto Editora convidou 9 escritores a escreverem um conto policial cada um. Com o resultado editou o livro Contos Policiais.
Dulce Maria Cardoso, A desaparecida - Uma história com raízes bem identificáveis num caso real, a prometer um bom conto, mas com um final sem sentido, tendo em conta o decorrer da acção. O conto policial pode não dar no seu final uma resposta única, não pode é dar uma resposta sem sentido.
Francisco José Viegas, O manuscrito de Buenos Aires -Temos um escritor que domina arte do policial, mas que neste conto deixa o leitor desconsolado. Num conto que decorria com um ritmo lento surge um final rápido e abrupto, com atitudes que não se entendem de algumas personagens, como se o autor estivesse a querer terminar o mais rápido possível.
Gonçalo M. Tavares, Bucareste-Budapeste, Budapeste- Bucareste. Um dos contos mais inovadores no estilo, um tema interessante, bem desenvolvido, não deixando o leitor respirar, mas com um final que se adivinhava 3 páginas antes do fim.
Hélia Coreia, Ao seu alcance. Conto policial porque aborda o crime, embora fora da situação tradicional de investigação. Um conto interessante.
Mafalda Ivo Cruz, A colina - Mau. Não se percebe o final. Felizmente que o polícia não se lembrou de me prender a mim.
Mário Cláudio, São Gerónimo e o leão - Não sei se a história se poderá chamar policial. Há uma morte. É violenta? Não se sabe. É crime? Não se consegue ter opinião. E o conto policial, não dando resposta, deve deixar elementos para o leitor ter opinião. Não é o caso. Há um outro aspecto que me parece estranho no conto. Até metade da história, nada faria supor, antes pelo contrário, que o advogado era amigo da vítima. O fio da história ficou algo emaranhado.
Ricardo Miguel Gomes, A perdição do sorriso cromado - Sem dúvida, no que respeita à estrutura do policial, a melhor das histórias. Segue um modelo humorístico de ridicularização da polícia. O final é excelente. Exageros em alguns diálogos que acabam um pouco desenquadrados do ritmo da história.
Rui Zink, D. Quixote - Um conto interessante, com crime, e um final inesperado, mas em que a eliminação das últimas linhas deixaria o leitor mais espantado.
Valter Hugo Mãe, O criminoso portuguesinho - Mais uma história que segue a linha humorística de ridicularização da investigação feita pelos polícias, embora o leitor encontre um final pouco criativo, se entretanto o estilo não o fez desistir antes.
Não deve ser fácil organizar um livro destes, dada a falta de matéria-prima. Se os romances policiais de autores portugueses são poucos, os contos ainda são menos. Não existem contos porque não há locais para publicar. Falta em Portugal a tradição das revistas ou dos suplementos dos jornais.
Essa falta de “escola” é bem visível neste livro, onde se mostra que não basta ser um bom, ou mesmo um excelente escritor para escrever no género policial.
Dick Haskins, o escritor policial português mais traduzido, afirmou numa entrevista ao Diário de Notícias em 23 de Junho de 2007: . "Um escritor de policiais é capaz de escrever qualquer género. O contrário já não é verdade. Muitos tentaram e não conseguiram"
Este livro é demonstrativo.
Na nota introdutória, Pedro Sena –Lino, o coordenador do livro escreve: “Um género só se implanta se tiver autores e leitores: agora tudo depende de si, leitor detectivesco”.
Eu acrescentaria. Também depende da qualidade do conteúdo, e não me parece que este livro consiga cativar muitos leitores para o género.