sábado, 28 de março de 2009

A árvore das mãos

Nos livros de Ruth Rendell raramente há apenas uma história. Há varias personagens, cada uma com um caso, cada uma num momento difícil, num momento de tensão, que num determinado tempo e num dado espaço acabam por coincidir.
Quando se lê um livro de Ruth Rendell fica-se com a impressão que a história poderia ter acontecido, pois mesmos os assassinos não estão muito longe do comportamento normal e o leitor percebe, e por vezes até aceita, esse comportamento anómalo. Todos parecem pessoas e comuns e normais.
A árvore das mãos não foge a esta regra. Três histórias que acabam por se entrelaçar num drama de grande tensão, onde a fronteira entre o certo e o errado, entre o amor e o ódio, entra a justiça e a injustiça acabam por ser ténues.

terça-feira, 24 de março de 2009

John Dickson Carr

John Dickson Carr nasceu em 30 de Novembro de 1906 nos Estados Unidos. Em 1928 partiu para a Europa com destino à Sorbonne, em Paris.
Em 1929 publicou o seu primeiro romance: It Walks By Night . Entre 1932 e 1948 viveu na Inglaterra, tendo sido admitido como membro do Detection Club. Em 1949, um ano depois de regressar aos Estados Unidos foi eleito presidente do Mystery Writers of América. A partir de 1969, e até à sua morte, teve uma coluna permanente no Ellery Queen Mystery Magazine, sob o título: “The jury Box”.
Morreu em 27 de Fevereiro de 1977.
John Dickson Carr é considerado o mestre dos “crimes em quarto fechado”. São vários os livros que escreveu que se classificam nesta categoria.
Em 1955 Carr afirmou ter encontrado 83 chaves diferentes para crimes em quarto fechado. Já em 1933 no livro The hollow man, no capítulo 17, Carr através da personagem de Fell, desenvolve as suas opiniões acerca do que é um crime em quarto fechado e das várias formas como pode ser cometido.
Escreveu sob vários pseudónimos, sendo o mais conhecido Carter Dickson. Além deste usou também Carr Dickson e Roger Fairburn.
Criou as personagens de Henry Merrivale, Gideon Fell, Henry Bencollin e Coronel March. Esta última personagem apenas surge em contos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

As aranhas douradas

O caso começa quando Archie Goodwin , aborrecido com um amuo exagerado de Nero Wolfe, motivado por Fritz ter alterado uma receita sem o avisar, decide levar-lhe à presença um rapaz que lhe queria narrar uma história que tinha presenciado dentro de um carro.
O rapaz é assassinado e Wolfe parte para a descoberta do que se oculta por detrás dos factos contados pelo rapazito. Partindo sem um cliente que lhe pague os honorários, situação rara em Wolfe, acaba no final com chorudo cheque de um dos envolvidos no caso.
Este caso, As aranhas douradas, (The golden spiders), tem a particularidade de colocar Archie Goodwin em acção armada, disparando sobre um criminoso, situação rara num detective, cujo principal papel consiste em percorrer quilómetros para entrevistar suspeitos e conseguir levá-los ao gabinete de Nero Wolfe.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Os dez mandamentos do Padre Knox

Ronald A. Knox nasceu em 1888 em Leicestershire numa família anglicana. Converteu-se em adulto ao cristianismo tendo sido capelão da universidade de Oxford entre 1926 e 1939.
Como escritor de história policiais foi um dos fundadores do Detection Club, para o qual elaborou em 1929 um conjunto de regras a que deveria obedecer a escrita de histórias policiais.
1 - O criminoso deve ser mencionado no início da história, mas não deve ser alguém de quem o leitor siga os pensamentos.
2 - Todos os procedimentos sobrenaturais devem ser banidos.3- Não deve existir mais do que um quarto secreto ou do que uma passagem secreta.
4 - Não deve ser usado nenhum veneno desconhecido nem nenhum facto que exija uma longa explicação científica no final.
5 - Nenhum chinês deve figurar na história6 - Não devem existir acidentes que ajudem o detective nem este deve abusar da intuição.
7 - O detective não deve ser o criminoso.8 - O detective não deve usar pistas que não sejam conhecidas também pelo leitor.
9 - O amigo estúpido do detective, o Watson, não deve esconder nenhum pensamento que lhe passe na mente.; a sua inteligência deve ser ligeiramente, mas somente ligeiramente inferior à do leitor médio.
10 - Irmãos gémeos, ou duplos, não devem aparecer, a não ser que o leitor tenha sido previamente preparado para isso .
É evidente que nem entre os outros elementos do Detection Club estas regras foram seguidas. Ainda bem, pois se assim não tivesse sido, talvez já não existisse literatura policial.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O caso das garras de veludo

É o primeiro caso de Perry Mason, publicado em Março de 1933.
Neste primeiro livro Perry Mason ainda não tem as características que viriam a tornar a personagem famosa. Ainda não é o detective que resolve os casos em tribunal. Aqui foi mais um detective do que um advogado.
Deste primeiro caso estão arredadas as interessantes lutas com o promotor de justiça em pleno tribunal. Tudo se passa num processo de investigação, onde apesar de ocorrer a prisão da sua cliente, o que se tornaria frequente, Mason resolve tudo antes do julgamento.
Apesar de não se encontrarem os interessantes interrogatórios de Mason, esta história tem no entanto uma outra característica particular. A solução nasce de indícios e não de construções teóricas, como acontecerá muitas vezes, que depois Mason tenta provar forçando a deslizes nos interrogatórios das testemunhas.
Della Street e Paul Drake fazem a sua aparição logo neste primeiro episódio.
O caso das garras de veludo foi publicado em Portugal pela primeira vez em 1947 na Colecção Vampiro, naquela que penso ser a primeira edição deste autor no nosso país. Em 1984, na Vampiro Gigante- Obras de Erle Stanley Gardner, fez parceria no volume duplo com O caso do cão uivador. Finalmente em 2003 a editora Asa fez uma nova tradução da obra, numa edição que se repetiu dois anos depois.

domingo, 8 de março de 2009

Crítica - Contos Policiais

A Porto Editora convidou 9 escritores a escreverem um conto policial cada um. Com o resultado editou o livro Contos Policiais.

Dulce Maria Cardoso, A desaparecida - Uma história com raízes bem identificáveis num caso real, a prometer um bom conto, mas com um final sem sentido, tendo em conta o decorrer da acção. O conto policial pode não dar no seu final uma resposta única, não pode é dar uma resposta sem sentido.

Francisco José Viegas, O manuscrito de Buenos Aires -Temos um escritor que domina arte do policial, mas que neste conto deixa o leitor desconsolado. Num conto que decorria com um ritmo lento surge um final rápido e abrupto, com atitudes que não se entendem de algumas personagens, como se o autor estivesse a querer terminar o mais rápido possível.

Gonçalo M. Tavares, Bucareste-Budapeste, Budapeste- Bucareste. Um dos contos mais inovadores no estilo, um tema interessante, bem desenvolvido, não deixando o leitor respirar, mas com um final que se adivinhava 3 páginas antes do fim.

Hélia Coreia, Ao seu alcance. Conto policial porque aborda o crime, embora fora da situação tradicional de investigação. Um conto interessante.

Mafalda Ivo Cruz, A colina - Mau. Não se percebe o final. Felizmente que o polícia não se lembrou de me prender a mim.

Mário Cláudio, São Gerónimo e o leão - Não sei se a história se poderá chamar policial. Há uma morte. É violenta? Não se sabe. É crime? Não se consegue ter opinião. E o conto policial, não dando resposta, deve deixar elementos para o leitor ter opinião. Não é o caso. Há um outro aspecto que me parece estranho no conto. Até metade da história, nada faria supor, antes pelo contrário, que o advogado era amigo da vítima. O fio da história ficou algo emaranhado.

Ricardo Miguel Gomes, A perdição do sorriso cromado - Sem dúvida, no que respeita à estrutura do policial, a melhor das histórias. Segue um modelo humorístico de ridicularização da polícia. O final é excelente. Exageros em alguns diálogos que acabam um pouco desenquadrados do ritmo da história.

Rui Zink, D. Quixote - Um conto interessante, com crime, e um final inesperado, mas em que a eliminação das últimas linhas deixaria o leitor mais espantado.

Valter Hugo Mãe, O criminoso portuguesinho - Mais uma história que segue a linha humorística de ridicularização da investigação feita pelos polícias, embora o leitor encontre um final pouco criativo, se entretanto o estilo não o fez desistir antes.

Não deve ser fácil organizar um livro destes, dada a falta de matéria-prima. Se os romances policiais de autores portugueses são poucos, os contos ainda são menos. Não existem contos porque não há locais para publicar. Falta em Portugal a tradição das revistas ou dos suplementos dos jornais.
Essa falta de “escola” é bem visível neste livro, onde se mostra que não basta ser um bom, ou mesmo um excelente escritor para escrever no género policial.
Dick Haskins, o escritor policial português mais traduzido, afirmou numa entrevista ao Diário de Notícias em 23 de Junho de 2007: . "Um escritor de policiais é capaz de escrever qualquer género. O contrário já não é verdade. Muitos tentaram e não conseguiram"
Este livro é demonstrativo.
Na nota introdutória, Pedro Sena –Lino, o coordenador do livro escreve: “Um género só se implanta se tiver autores e leitores: agora tudo depende de si, leitor detectivesco”.
Eu acrescentaria. Também depende da qualidade do conteúdo, e não me parece que este livro consiga cativar muitos leitores para o género.




quarta-feira, 4 de março de 2009

Nero Wolfe

Nero Wolfe é possivelmente o detective mais gordo da história da literatura policial. Vive na sua casa da 35ª Rua Oeste de onde não gosta de sair. Tem horror a automóveis, apenas aceitando ser conduzido, caso seja mesmo indispensável, por Archie Goodwin, o seu homem de acção que recolhe todas as pistas e contacta os suspeitos e testemunhas para que estes visitem Wolfe. Na casa vive ainda Fritz, o cozinheiro responsável por produzir todos os acepipes que Nero Wokfe gosta.
Além de resolver crimes, sempre muito bem pago para o efeito, Wolfe tem como passatempo cultivar orquídeas na estufa que possui no último andar. É aí que que, durante duas horas de manhã e duas horas à tarde, faz companhia ao jardineiro Theodore.
A resolução dos casos passa quase sempre por uma reunião em casa de Wolfe, para onde também é convidado Cramer, o representante da autoridade, e que acaba com a descoberta de quem cometeu o crime.
Os métodos de Wolfe não são de dedução a partir de pistas. Dificilmente o leitor, com os dados de que tem conhecimento, conseguiria chegar à mesma conclusão. Por vezes alguns dos dados que detective utiliza nem são do conhecimento do leitor.
A resolução é mais pela intuição, pela descoberta de quem mais lucra com o crime, pela procura do verdadeiro móbil, do que pela análise de indícios no local do crime ou pela destruição do álibi do criminoso.